terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Carnaval, Cinzas e Quaresma...

Olhando para o calendário, rapidamente se percebe que é a Páscoa quem rege o Carnaval: a Páscoa é celebrada no primeiro Domingo da lua cheia após o equinócio da primavera, no hemisfério Norte. O Carnaval acontece entre 3 de Fevereiro e 9 de Março, sempre quarenta e sete dias antes da Páscoa, ou seja, após o sétimo Domingo que antecede o Domingo de Páscoa.


Carnaval
O Carnaval é uma festividade popular colectiva, cíclica e agrária. Teve como verdadeiros iniciadores os povos que habitavam as margens do rio Nilo, no ano 4000 a.C., e uma segunda origem, por assim dizer, nas festas pagãs greco-romanas que celebravam as colheitas, entre o séc. VII a.C. e VI d.C.
A Igreja viria a alterar e adaptar práticas pré-cristãs, relacionando o período carnavalesco com a Quaresma. Uma prática penitencial preparatória à Páscoa, com jejum começou a definir-se a partir de meados do século II; por volta do século IV, o período quaresmal caracterizava-se como tempo de penitência e renovação interior para toda a Igreja, inclusive por meio do jejum e da abstinência.
Tertuliano, São Cipriano, São Clemente de Alexandria e o Papa Inocêncio II foram grandes inimigos do Carnaval, mas, no ano 590, a Igreja Católica permite que se realizem os festejos do Carnaval, que consistiam em desfiles e espectáculos de carácter cómico.
No séc. XV, o Papa Paulo II contribuiu para a evolução do Carnaval, imprimindo uma mudança estética ao introduzir o baile de máscaras, quando permitiu que, em frente ao seu palácio, se realizasse o Carnaval romano, com corridas de cavalos, carros alegóricos, corridas de corcundas, lançamento de ovos, água e farinha e outras manifestações populares. Sobre a origem da palavra Carnaval não há unanimidade entre os estudiosos, mas as hipóteses "carne vale" (adeus carne!) ou de "carne levamen" (supressão da carne) levam-nos, indubitavelmente, para o início do período da Quaresma. A própria designação de Entrudo, ainda muito utilizada entre nós, vem do latim "introitus" e apresenta o significado de dar entrada, começo, em relação a esse tempo litúrgico.
Cinzas
No dia seguinte, a cinza recorda o que fica da queima ou da corrupção das coisas e das pessoas. Este rito é um dos mais representativos dos sinais e gestos simbólicos do caminho quaresmal.Nos primeiros séculos, apenas cumprem este rito da imposição da cinza os grupos de penitentes ou pecadores que querem receber a reconciliação no final da Quaresma, na Quinta-feira Santa, às portas da Páscoa. Vestem hábito penitencial, impõem cinza na sua própria cabeça, e desta forma apresentam-se diante da comunidade, expressando a sua vontade de conversão.
A partir do século XI, quando desaparece o grupo de penitentes como instituição, o Papa Urbano II estendeu este rito a todos os cristãos no princípio da Quaresma. As cinzas, símbolo da morte e do nada da criatura em relação a seu Criador, obtêm-se por meio da queima dos ramos de palmeiras e de oliveiras abençoados no ano anterior, na celebração do Domingo de Ramos.

Quaresma
A Quaresma é o tempo litúrgico de conversão, que a Igreja Católica, a Igreja Anglicana e algumas protestantes marcam para preparar os crentes para a grande festa da Páscoa. Durante este período, os seus fiéis são convidados a um período de penitência e meditação, por meio da prática do jejum, da esmola e da oração.
O termo Quaresma deriva do latim "quadragesima dies", ou seja, quadragésimo dia. É o período do ano litúrgico que dura 40 dias: começa na quarta-feira de cinzas e termina na missa "in Coena Domini" (Quinta-Feira Santa), sem inclui-la.
Ao longo deste período, sobretudo na liturgia do domingo, é feito um esforço para recuperar o ritmo e estilo de verdadeiros fiéis que pretendem viver como filhos de Deus.
A Quaresma dura 47 dias, embora para o calendário litúrgico os domingos não contem, perfazendo então 40 dias. A duração da Quaresma está baseada no simbolismo do número quarenta na Bíblia que significa provação. Nesta, fala-se dos quarenta dias do dilúvio, dos quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias de Moisés e de Elias na montanha, dos quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, dos 400 anos que durou o exílio dos judeus no Egipto.
A Igreja católica propõe, por meio do Evangelho proclamado na quarta-feira de cinzas, três grandes linhas de acção: a oração, a penitência e a caridade. Não somente durante a Quaresma, mas em todos os dias de sua vida, o cristão deve buscar o Reino de Deus, ou seja, lutar para que exista justiça, a paz e o amor em toda a humanidade. Os cristãos devem então recolher-se para a reflexão para se aproximar de Deus. Esta busca inclui a oração, a penitência e a caridade, esta última como uma consequência da penitência.
O sexto Domingo, que dá início à Semana Santa, é chamado "Domingo de Ramos", "de passione Domini". Desse modo, reduzindo o tempo "de passione" aos quatro dias que precedem a Páscoa, a Semana Ssanta conclui a Quaresma e tem como finalidade a veneração da Paixão de Cristo a partir da sua entrada messiânica em Jerusalém.
Uma prática penitencial preparatória para a Páscoa, com jejum, começou a surgir a partir de meados do século II; outras referências a um tempo pré-pascal aparecem no Oriente, no início do século IV, e no Ocidente no final do mesmo século.
Nos primeiros tempos da Igreja, durante esse período, estavam na fase final da sua preparação os catecúmenos que, durante a vigília pascal, haveriam de receber o Baptismo.
Por volta do século IV, o período quaresmal caracterizava-se como tempo de penitência e renovação interior para toda a Igreja, inclusive por meio do jejum e da abstinência, marcas que ainda hoje se mantêm.
Na Liturgia, este tempo é marcado por paramentos e vestes roxas, pela omissão do "Glória" e do "Aleluia" na celebração da Missa.

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